28 e 29/10 • Ribeirão Pires

Proteger o livro, incentivar a leitura

Os mares da literatura são fabulosos
porque, como o mundo oceânico,
eles conectam as pessoas.

A primeira edição da FLIRP (2022) foi uma experiência única. Agora, em sua segunda edição essa experiência será potencializada, pois ela está ainda melhor. Diferentemente do ano passado, a FLIRP2023 traz um tema: “Proteger o livro, incentivar a leitura”. E a homenageada será nada menos que Clarice Lispector (1920 – 1977). Escritora nascida na Ucrânia, mas criada no Brasil desde os dois anos de idade. “O Recife vive em mim!”. Era o que ela costumava dizer. Com Clarice destacamos uma das maiores escritoras da nossa literatura e fortalecemos a representatividade da mulher brasileira. Clarice é autora de Perto do Coração Selvagem, Laços de Família, A Hora da Estrela, A paixão segundo GH, Um sopro de vida – para citar apenas alguns títulos – Seus livros são lidos e admirados pelos jovens, principalmente, as leitoras. “Clarice atinge o âmago das questões humanas e extra-humanas. Sua obra é continuamente moderna e atual. Hoje, ela é parte do cânone da literatura mundial”, assegura Marília Librandi, doutora em Teoria Literária pela Universidade de São Paulo (USP).

Uma feira popular

Numa grande festa literária, editores, autores, artistas, leitores, professores, estudantes, público em geral transformam-se mutualmente, a cidade se transforma, nada volta ao seu lugar de origem. Estabelece-se uma conexão. A semente da leitura é semeada, prolifera e dar inúmeros frutos. Serão mesas de debates, bate-papos, shows, performances, leituras, dança, teatro, música, filmes, documentários, contação de histórias, e muito mais. O povo da cidade de Ribeirão Pires e região, poderá, em apenas dois dias, conhecer obras de inúmeros artistas, autores, profissionais da cidade, como também de grande parte do país. Teremos grandes expositores/editores de diversas regiões do Brasil. 

Desta feita, assim como foi no ano passado, fortaleceremos a Sementeira: projeto no qual cada autor participante – seja da cidade ou de outra localidade – doa livros da sua lavra para o acervo do CHL – Centro Histórico e Literário Ricardo Nardelli, espaço cultural recém-inaugurado em Ribeirão Pires. E este ano, a Sementeira será ainda mais fortalecida, pois as editoras também doarão títulos dos seus acervos. 

A FLIRP2023 foi conceituada e dividida em: a Terra, a Autora, a Obra e seus desdobramentos. Tópicos relacionados à origem, à personalidade, e ao legado literário de Clarice Lispector, como também às inúmeras influências desse legado em todas as tendências de arte no Brasil e no mundo.  Para a mesa de abertura, teremos uma conversa sobre a Ucrânia, (a terra de Clarice). A professora ucraniana Svitlana Krivoruchko, e os professores Vitório Sorotiuk e Emílio Gaudeda falarão sobre o conceito sócio-histórico deste país: cultura, costumes, conflitos etc. Logo após, haverá a participação do grupo de danças folclóricas Ucranianas KYIV.

Clarice trouxe a mulher para o centro das narrativas, mulheres várias, com seus questionamentos, complexidades, conflitos; e, por isso, foi muito adaptada e interpretada – por mulheres – para diversas vertentes da arte: literatura, ensaios, biografias, documentários, filmes, dança, teatro, e até quadrinhos. Teresa Montero lança a mais abrangente biografia sobre Clarice até então: “A procura da própria coisa: uma biografia de Clarice Lispector” (Rocco, 2021). No cinema, a celebrada atriz Marcélia Cartaxo, de forma marcante, interpretou Macabéia, em A Hora da Estrela (1985), adaptação do livro homônimo, de Clarice. Taciana Oliveira, cineasta pernambucana lança o documentário: “A Descoberta do Mundo” (2023, NetFlix), sobre Lispector. A atriz global Beth Goulart viajou pelo Brasil com o monólogo “Simplesmente, eu, Clarice Lispector”, como também atuou no documentário “De corpo Inteiro”. (outro livro de Lispector). Montero, Cartaxo, Oliveira, e Goulart estarão também na FLIRP2023 para falar – in loco – dessas obras, entre outras. E tem mais: à mesa: “Clarice, e depois? Literatura contemporânea e representatividade”: Itamar Vieira Junior falará do fenômeno Torto Arado, e dos seus mais recentes livros. 

O livro e a leitura

O tema da FLIRP 2023: “Proteger o livro, incentivar a leitura” é muito pertinente e atual. Em setembro de 2020, foi lançada a quinta edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, e os resultados foram, em parte, preocupantes. De 2015 a 2019, o país perdeu cerca de 4,6 milhões de leitores, e boa parte deles nas faixas etárias de 14 a 17 anos e de 18 a 24, chegando a oito pontos percentuais de diferença. Os dados apontam que o brasileiro lê, em média, cinco livros por ano, mas apenas dois e meio completos. Segundo os especialistas, há inúmeros fatores que que agravam esse desinteresse: a imersão excessiva nas redes sociais, o fechamento de livrarias, bibliotecas, a precariedade da maioria dos estabelecimentos de ensino, e ainda, a escassez de mediadores de leitura (família, professores, amigos etc.). Para entender melhor essa questão, à mesa: “o livro, a leitura e o futuro”: profissionais da CBL – Câmara Brasileira do Livro – abordarão os quatro eixos do Plano Nacional do Livro e Leitura: 1- a democratização do acesso, 2- o fomento à leitura e à formação de mediadores, 3- a valorização institucional da leitura e incremento de seu valor simbólico e 4- o desenvolvimento da economia do livro. Entre outros diversos assuntos pertinentes ao tema. 

Portanto, uma festa literária, além de criar um movimento em torno do livro, com promoções, descontos, exposições, oficinas, workshops, tudo em um só lugar, é acima de tudo, um ambiente de fomento e incentivo à leitura em todos os gêneros e possibilidades. O doutor Dráuzio Varela diz que começou lendo gibis. Depois, tornou-se um leitor apaixonado. Hoje, sabemos, é um escritor reconhecido. Além de tudo isso, segundo o psicanalista Christian Dunker “Uma biografia da depressão” (Paidós, 2021), autor que também estará na FLIRP 2023, diz que as experiências culturais nos protegem das doenças mentais. Nas peculiaridades com a leitura, no aprofundamento da capacidade de interpretação do mundo e de localizar-se nele. 

Então, em clima de festa, vamos torcer para que haja ainda mais eventos assim, vamos torcer para que as políticas de proteção ao livro e de incentivo à leitura nos tragam bons frutos, senão eliminando, pelo menos, diminuindo o desinteresse dos jovens pela leitura. Porém, é certo, devemos, desde já – e sempre – estar conscientes de que proteger o livro e incentivar a leitura são também responsabilidades de todos e de todas. Temos de fazer o nosso dever/leitura de casa, incentivar os outros, como também manter o livro em alta conta. É isso. Aproveitem esta grande festa. Vida longa à FLIRP! ao livro! e viva a leitura! Ribeirão-Pirenses e região, evoé! 


Reynaldo Bessa
Curador

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